terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Eu tinha 15. Ele teria os seus...30?!



A nha prima Zabel resolveu casar. Já ninguém dava nada por ela, mas casou. E bem! O noivo, Primo Zé Tó, reputado médico, simpático, 2 filhos e uma quantidade tal de netos que parecia a Primark em Dezembro.
Já todos conheciam os filhos do primo Zé Tó. Todos. Menos eu.

Jamais esquecerei o momento em que, mesmo em frente à igreja, me foi apresentado o Artur, o mai’novo do primo Zé Tó. Arquitecto e extremamente bonito, Artur deu-me dois beijos e até disse que tinha muito gosto em me conhecer. ‘Deusse-me’ uma cólica.

Durante a boda, na fotografia de grupo e entre tabuleiros de canapés, procurei Artur por várias vezes mas ele não me via. ‘Coitado, é o casamento do Pai dele e deverá estar atarefado. Quiçá triste, quiçá feliz. Quiçá precisa de apoio.’

Sentada ao almoço com os meus primos, avisto Artur no enorme salão em direção à porta que dá para os WCs. ‘JÁ VOLTO!’, digo assertivamente à minha prima como quem diz: eu vou ao WC e não, não quero companhia!

As portas do salão eram de vidro e ao longe, no corredor, avisto Artur já de saída do WC, aceno e sorrio. Escusado será dizer que a porta de vidro continuava a ser de vidro. E que não vi a porta de vidro. E a minha cara doeu. E um salão inteiro de olhos postos em mim enquanto Artur me perguntava se eu estava bem.
Não o voltei a ver. Ele andava por lá mas eu nunca mais tive coragem de olhar para ele. Nem para as p**as das portas de vidro.


In As vergonhas de Micas Coxa

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